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Pedro Chagas Freitas: “Foi com Quinito que quis ser escritor. Ele, que era um treinador”

"Ele, que era um treinador, fez-me muitas vezes querer ser escritor e poeta, usar as palavras como ele as usava, como ele as usa."

Ana Ramos
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Pedro Chagas Freitas partilhou com os seguidores, esta sexta-feira, um texto acerca do treinador de futebol Quinito, que o inspirou a ser escritor.

“‘O futebol saiu-me caro. Estava ocupado, sempre fora de casa. Não conheci verdadeiramente o meu filho. Não ouvi a primeira vez que falou, não vi a primeira vez que andou de bicicleta. E agora ele já não está cá. Sinto uma culpa muito grande em mim’”, citou o escritor numa publicação no Instagram.

“A reflexão pesada, violenta mexe nas nossas entranhas, faz-nos pensar em quem somos, em quem queremos ser, no que queremos fazer com o tempo que temos. Foi assim, de lágrimas nos olhos, que assumiu, há alguns anos, o motivo pelo qual estava desde 2009, ano em que o seu filho perdeu a vida, afastado do futebol. Até nisso, na honestidade, na forma arrepiante como expôs a ferida que o massacra, mostrou a poesia que lhe corre nas veias, no interior da alma em ruínas”, começou por dizer Pedro Chagas Freitas.

“Foi com Quinito que quis ser escritor. Ele, que era um treinador, fez-me muitas vezes querer ser escritor e poeta, usar as palavras como ele as usava, como ele as usa. Com ele, aprendi que é de pessoas boas que se fazem profissionais bons. Com ele, aprendi que quem não é boa pessoa não pode ser bom treinador, nem bom coisa nenhuma. Com ele, aprendi um pouco a ser pessoa”, contou Pedro Chagas Freitas.

“Há em Quinito uma luz que se apagou. Não sei de algo mais grandioso do que alguém que se apaga ao sentir que se esqueceu de ser a luz para quem mais amava. Até na dor os poetas ensinam”, continuou Pedro Chagas Freitas.

“Acredito que, aos poucos, a luz vai voltar a acender. Não será, não voltará a ser, o mesmo Quinito que via no futebol um ensaio metafísico, uma sucessão de versos. Ninguém sobrevive à dor maior de todas incólume. Será um outro Quinito, mas sempre o trovador incomparável, o lírico, o romântico, o homem que se apresentou de fato de gala numa final da Taça, a inspiração que ninguém igualou”, afirmou Pedro Chagas Freitas.

“Quinito tem de ter um futuro. O caminho não pode ter terminado. O futebol precisa de Quinito, claro; mas as pessoas, ainda mais em tempos de ódio, de medo, de insegurança, precisam ainda mais”, considerou Pedro Chagas Freitas.

“Aqui vai um abraço apertado para ele. Sinto que um dia voltará ao banco onde durante tantos anos fez magia. Ele merece que seja o futebol a curá-lo da doença que o futebol lhe deu. Quando chegar esse momento, prometo que estarei lá, a assistir, a aproveitar. No futebol, como na vida, temos de colocar a carne toda no assador”, rematou Pedro Chagas Freitas.